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sábado, 8 de outubro de 2011

O QUE AVALIAR? COMPETÊNCIAS OU CONTEÚDOS?

O QUE AVALIAR? COMPETÊNCIAS OU CONTEÚDOS?

Este texto foi escrito por Rodrigo Travitzki    .
http://www.rizomas.net/


Esta pergunta está na boca dos educadores já há algum tempo e tem sido feita com mais frequência depois que o ENEM deixou seu formato "alternativo" original e passou a incluir conteúdos disciplinares em sua matriz de competências.

Conteúdos ou competências?

Poucos notam que esta pergunta parte de um princípio equivocado. De que alguém pode ser competente em alguma coisa sem ter certos conhecimentos específicos. Não sei bem de onde vem essa ideia, talvez seja fruto de uma leitura apressada dos discursos mais "esclarecidos" que defendem a pedagogia das competências.

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Alguém poderia, por exemplo, ler este trecho de Perrenould num artigo de revista científica ou semanal:

"Não se avalia até que ponto o enciclopedismo dos programas priva os saberes escolares (...) da controvérsia própria à pesquisa, desferindo-lhes como verdades absolutas a alunos" Perrenoud, pg. 14.

Um entusiasta incauto poderia utilizar tal frase como ponto de apoio para travar suas lutas contra o conteúdo e a favor das competências, seja por idealismo, por inexperiência, por preguiça ou outro motivo. Mas, antes disso, teria sido melhor ter visto como a frase terminava: "... verdades absolutas a alunos que estão mais preocupados com os exames do que em adquirir conhecimentos que lhes sirvam como ferramentas de inteligibilidade do mundo". Ou seja, a competência não substitui o conhecimento, nem é algo a menos do que ele. Muito pelo contrário, as competências são algo a mais, além dos conteúdos. Algo que pressupõe conteúdos, mas não apenas conteúdos, e não qualquer conteúdo.

Na página seguinte do mesmo livro, Perrenoud nos esclarece.

"As reformas curriculares que estão sendo empreendidas na Bélgica, no Brasil, no Canadá ou em Portugal, por exemplo, são favoráveis à cidadania, desde que, naturalmente, a linguagem das competências não seja uma simples concessão ao espírito do tempo e a transposição didática refira-se a práticas sociais, entre as quais as práticas cidadãs. É preciso salientar que isso não conduz, de modo algum, a abandonar os saberes disciplinares, mas a concebê-los como ferramentas para compreender e dominar a realidade, e não como base para outros estudos superiores." Perrenoud, pg. 15.

Talvez a pedagogia das competências tenha tomado uma forma diferente daquela imaginada por pessoas como Perrenoud. Talvez ela esteja se tornando algo bonito de dizer mas estranho de fazer. Talvez ela tenha sido, como tantas outras coisas, algo mais voltado para o mercado do que para a cultura. Realmente não sei sobre essas coisas. Mas creio que um esclarecimento sobre o conceito pode, pelo menos, ajudar a colocar as ideias no lugar.

Fonte:

PERRENOUD, P. Escola e Cidadania: o papel da escola na formação para a democracia. Trad. Fátima Mudad, Porto Alegre 2005.

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